As igrejas são seguidoras de mercado e tendências
O professor de Escola Bíblica dominical deve estar atento aos avanços tecnológicos e científicos e aplicá-los em suas igrejas.
Foi se o tempo em que o professor usava apenas um livro de estudos e uma Bíblia para ministrar aulas na Escola Bíblica Dominical. Na era da informação e cheio de novas tecnologias, o cenário mudou. É uma infinidade de recursos audiovisuais usados para o ensino da Palavra.
Seguindo uma tendência mundial, hoje, as Igrejas evangélicas brasileiras adotam métodos tecnológicos para o ensino da Bíblia. “As igrejas não são vanguarda, mas sim, seguidoras de mercado e tendências”, disse Flávio Carvalho, que é Educador do Ministério de Educação Cristão da Convenção Batista do Espírito Santo.
Para ele, o professor da EBD, sucumbido pelas informações, devem estar atento aos avanços tecnológicos e científicos. “Nada substituirá o contato e a comunicação pessoal e direta com nossos alunos, mas essas tecnologias são apenas ferramentas para auxiliar o ensino e a pregação da palavra”, explicou.
Flávio, que também é administrador de empresas e atua há nove anos na educação cristã, será um dos palestrantes do Congresso Nacional de Escolas Bíblicas, que será realizado entre os dias 29 e 30 de março, em Vitória (ES), e terá como tema “O padrão de Deus para um ensino discipulador”. Ele vai ministrar sobre as “tecnologias a serviço da Escola Bíblica”.
Em entrevista à Comunhão ele explicou melhor esse mercado, a importância dos recursos tecnológicos como ferramenta de comunicação para a melhoria do ensino da palavra de Deus nas igrejas e como deve ser um bom professor de Escola Bíblica dominical. Confira!
Hoje vemos uma sociedade mais tecnológica. O professor da EBD deve estar atento a esses avanços?
Na antiguidade, os ensinos eram transmitidos e baseados nas antigas tradições orais do povo. É possível que, naquela época, algumas informações possam ter se perdido, entretanto, a essência da Palavra permaneceu viva.
Na antiguidade, a inexistência de tecnologias como as atuais, não impediram que a Mensagem de Salvação se propagasse. Tantos impérios se levantaram e caíram usando serviços de mensageiros a pé e, depois, a cavalo. Lembremo-nos do telégrafo, da máquina de escrever, do fax, etc.
Tecnologias que se mostraram maravilhosas para a época, porém, vieram, cumpriram sua finalidade e se foram, dando lugar a tecnologias substitutas. É importante que os professores de EBD acompanhem e conheçam estas novas tecnologias para que tirem o máximo proveito delas, entretanto, estou certo de que, muito em breve, serão substituídas por novas tendências. Estes avanços tecnológicos nada mais são do que ferramentas para auxiliar o ensino e a pregação da Palavra. Nada substituirá o contato e a comunicação pessoal e direta com nossos alunos.
Quais são as ferramentas tecnológicas mais usadas hoje por professores de EBD nas igrejas?
Nas igrejas ainda é muito modesto o uso de tecnologias. Ainda se conservam computadores, tablets, o Powerpoint, ou outros softwares para apresentações, o culto-online, etc. Não podemos considerar as igrejas como instituições que têm desfrutado plenamente das novas tecnologias, certamente por desconhecimento e, em alguns casos, por falta de interesse. Trata-se de uma questão de geração e inclusão digital. As igrejas não são vanguarda, mas sim, seguidoras de mercado e tendências, podemos perceber que é muito comum uma ideia de: “Vou adotar porque José usou por lá e disse que deu certo.”
De que maneira essas mudanças “tecnológicas” impactam a sociedade e consequentemente a Igreja?
As Redes Sociais virou uma febre. As pessoas se fecham no seu “mundo” digital se isolando do convívio social mais próximo: pessoas que as cercam. No auge das primeiras ideias e, na oportunidade do surgimento de redes sociais – aqui no Brasil o MSN, Messenger e Orkut, refutei o uso destas tecnologias, pois, achava se tratar de um despropósito e perda de tempo. Com o passar do tempo, as empresas onde trabalhei, passaram a adotar aquelas tecnologias para viabilizar a comunicação mais barata e veloz entre as filiais.
Aquilo que eu relutei em aceitar, agora fazia parte da minha vida cotidiana, e tornou-se uma necessidade para acompanhamento do “giro” global. Tenho observado que ao fim de cada sessão de culto ao Senhor, grande parte dos membros das igrejas correm aos seus celulares. Há alguns anos, isso era mais comum na juventude, hoje, porém, já se estende a faixas etárias mais elevadas. Por esses dias, li uma matéria que usava uma expressão muito adequada para esta situação – humanos avestruzes – referindo-se à lenda de que a avestruz tem o hábito de enfiar sua cabeça em um buraco no chão se isolando do mundo.
Vivemos numa sociedade complexa em um mundo globalizado, e principalmente os adolescentes/jovens estão ainda mais antenados. O acompanhamento desse avanço pode ser sucumbido pela avalanche de informações?
Esta nova geração de jovens e adolescentes já nasceu em uma era digital e, portanto, não chegaram a passar pelas atividades de entretenimento e diversão das gerações anteriores. Hoje, o ensino, a comunicação e a diversão de grande parte desta juventude é estar conectada. Por quanto tempo um adolescente ou jovem, e, até mesmo, crianças dos 4 anos em diante, fazem o uso de dispositivos eletrônicos? Nossos filhos têm investido muitas horas diárias de suas preciosas vidas “logados” em um mundo de relações virtuais.
Ensinar a Palavra de Deus não é uma tarefa fácil. A tecnologia pode potencializar o ofício do professor?
De fato, “ensinar a Palavra de Deus não é fácil”, mas a mensagem de salvação é simples. Deus, através Cristo Jesus, deu aos crentes um ministério comum a todos que o receberam, o Ministério da reconciliação – como se lê em 2 Coríntios 5:11- 6:10, “e pôs em nós a palavra da reconciliação”.
E nós, professores, com o dom do ensino, devemos absorver esta ideia com muito comprometimento. Para que este compromisso seja eficiente no alcance do propósito de levar a Palavra de Salvação a todos os cantos da terra, precisamos usar ferramentas que nos permitam um processo de melhoria continua em nosso desenvolvimento pessoal para ir além da nossa capacidade de homem natural – quero usar uma ilustração para isto – Quando tenho que cortar um tronco bem grosso de madeira com um serrote, este trabalho será demorado e cansativo, porém, se eu fizer uso de uma serra elétrica, o trabalho será mais rápido, leve e bem mais produtivo – assim é o uso da tecnologia.
Qual a diferença entre um professor de Escola bíblica de 50 anos atrás com o de hoje? Houve melhora ou regressão do ensino da Palavra de Deus?
A diferença entre o professor da Escola Bíblica de 50 anos atrás e aquele dos dias atuais é apenas a geração. A essência do professor da Escola Bíblica não mudou – o professor da Escola Bíblica conserva o amor pelo trabalho no Ensino da Palavra do Senhor. É um trabalho voluntário, nenhum professor de Escola Bíblica é constrangido a ministrar, é um dom de Deus e, portanto, um presente dado pelo próprio Criador. A Palavra de Deus se renova a cada dia e, por isso, é sempre nova e atual, se conserva viva. O ensino na EB sempre avançará – Mateus 24:35: ‘Os céus e a terra passarão, mas as minhas palavras jamais passarão’.
Na era da informação porque é preciso lançar mão dos recursos tecnológicos para a exposição de conteúdos nas escolas bíblicas?
Agora devolvo uma pergunta: Como competir com um mundo tecnológico virtual interessante, fascinante, envolvente, cativante e arrebatador para esta geração?
Deus deu inteligência e capacidade cognitiva ao ser humano. O homem evoluiu tecnologicamente graças a esta capacidade de raciocinar – se a tecnologia chegou onde chegou – foi graças a Deus. Na minha visão, Deus permitiu que a igreja primitiva fosse perseguida para que a mensagem se espalhasse para fora do meio em que viviam os primeiros pregadores da Palavra – e hoje, vejo que a tecnologia que Ele nos permitiu desenvolver, deve ser conhecida e aplicada como ferramenta no propósito de ensino da Palavra.
Podemos dizer que os métodos usados de 30 a 40 anos atrás estão ultrapassados?
Não diria ultrapassados, mas sim, renovados por novos processos de ensino mais adequados à esta nova geração.
Mas então, como dever ser o bom professor de escola dominical?
A tecnologia passará e novas surgirão. O Professor de Escola Bíblica permanecerá e, antes de tudo, ele deve ser temente a Deus, comprometido com a Palavra, deve reconhecer-se como dependente de Deus para sua inspiração e deve buscar aprender com os alunos, deve ser dinâmico, deve amar o que faz. Esta demonstração de amor pelo que faz leva todos a se lembrarem de seus professores por toda a vida – aqueles que achávamos serem maus professores, dizíamos não gostar da matéria e, por conseguinte, nosso rendimento era ruim – com pouca retenção do ensino. Em contrapartida, dos bons professores lembramo-nos com prazer e saudade e amávamos a matéria e nosso rendimento era superior. Creio que muitos professores vão compartilhar comigo a mesma ideia: A cada dia que ministramos e ensinamos, nós aprendemos muito mais do que os alunos, mas eu só serei um bom professor quando eu encontrar alunos que ensinei, melhores do que eu.
Fonte: Revista Comunhão