Hermenêutica – interpretação bíblica
por Pr. Natanael Rinaldi
O QUE É HERMENÊUTICA
A palavra hermenêutica significa: “interpretação do sentido das palavras; interpretação dos textos sagrados; arte de interpretar leis” (Dicionário Aurélio).
Em relação ao estudo bíblico: “Hermenêutica é o estudo de princípios de interpretação bíblica e a aplicação destes princípios no estudo bíblico”.
Nas Escrituras é usada em quatro versículos: Jo. 1.42; 9.7; Hb. 7.2 e Lc. 24.27. Esse termo pode ser traduzido por explicar ou expor.
A LIBERDADE DA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA.
É um princípio defendido por nós, evangélicos, o direito de todas as pessoas interpretarem por si mesmas o significado do conteúdo da Bíblia Sagrada.
Este princípio foi um dos fundamentos da Reforma Protestante do século XVI.
Essa liberdade não nos dá o direito deinterpretá-la da maneira que quisermos, que mais nos agrade ou conforme os nossos interesses.
Observações:
1) Quando a sua interpretação particular o conduzir a uma conclusão diferente da posição evangélica histórica, deve ser considerada suspeita. Na maioria das vezes, depois de mais amplo estudo, você verá que errou em sua interpretação.
2) Somos devedores à história da igreja que registra o que os crentes do passado malharam na bigorna da sondagem da alma, da investigação escrituristica e do debate.
3) A história da igreja é importante, mas não decisiva na interpretação da Escritura (cuidado!!!).
A IMPORTÂNCIA DA BOA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA.
Não podemos interpretar a Bíblia de forma irresponsável. Ela contém material muito sério, não pode-ser tratada com
Da boa interpretação bíblica depende ofazermos ou não aquilo que Deus espera de nós.
Os perigos nos últimos dias exigem uma hermenêutica sólida (2Tm. 4.1-4; 1Tm.4.1-6; 2Pe. 3.16).
Somos encorajados a “manejar bem” aPalavra de Deus (2Tm. 2.15). A palavra traduzida “manejar bem” literalmente significa “cortar direito”.
Observação: Estejamos atentos para descobrir oreal significado da mensagem bíblica para que não venhamos a ouvir, nós mesmos, a seguinte repreensão ouvida por alguns profetas contemporâneos de Jeremias: “Eis que sou contra esses profetas, diz o Senhor, que pregam a sua própria palavra, e afirmam: Ele disse”. (Jr. 23.31).
MANEIRAS DE DISTORCER A MENSAGEM BÍBLICA.
Existem três maneiras de distorcer a mensagem bíblica:
1 – Acrescentando algo à sua mensagem (Ap. 22.18).
2 – Omitindo parte dela (Ap. 22.19).
3 – Forçando uma interpretação (Mt. 4.1-11; 2Co. 4.1-2; 2Pe. 3.16).
REGRAS BÁSICAS PARA SE OBTER UMA BOA INTERPRETAÇÃO BÍBLICA.
1) Pedir constantemente a orientação divina.
Deus nos deu a sua Palavra, a Bíblia, para que conheçamos os seus planos para as nossas vidas. Desta forma, ninguém mais apropriado para explicar o significado da Palavra de Deus do que o próprio Deus (1Co. 2.14-16).
Deve o intérprete permanecer em oração antes, durante e depois do estudo de qualquer passagem bíblica.
Deus providencia uma maneira para o intérprete entender o texto bíblico Inclusive poderá providenciar pessoas mais capazes e experientes para ajudá-lo nesta tarefa.
Exemplo: O caso do etíope em relação a Filipe (At. 8.26-40).
Obs. O deus deste mundo, Satanás, faz o máximo que pode para impedir que as pessoas compreendam a verdade espiritual (2Co. 4.14).
2) Abordar todas as passagens com humildade.
Ao tratar com a palavra de Deus, seja humilde, esteja consciente de que dificilmente alguém atinge um completo conhecimento de qualquer texto bíblico.
Sempre pode haver mais alguma coisa que Deus deseja mostrar através dele, e você só aprenderá quando concluir que existe a possibilidade de desconhecer alguma parte.
O intérprete ao pensar que já sabe tudo, de forma arrogante, acaba por não enxergar as verdades ainda não descortinadas para a sua mente.
O conselho bíblico é claro: seja humilde, porque “adiante da honra vai a humildade” (Pv. 33b), da mesma forma que “a altivez do espírito precede a queda” (Pv. 16.18b). Em suma, só aprendemos quando sabemos que não sabemos.
Notamos muitas vezes que passagens bem familiares da Bíblia são interpretadas de forma errada, simplesmente porque o intérprete está acostumado com elas. Talvez até as conheça de cor, só que não percebeu o significado verdadeiro. Trata-as com descuido, na ilusão de que já as conhece muito bem, não precisa se esforçar para aprender mais nada a respeito delas.
Exemplo: Mt. 6.25-34 – Existe um Cântico que diz o seguinte: “Buscai primeiro o reino de Deus e toda a sua justiça, e todas as coisas vos serão acrescentadas, aleluia, aleluia”. O texto bíblico não contém a frase “e todas ascoisas vos serão acrescentadas” mas sim “e todas estas coisas”. Lendo o texto, desde o versículo 25 até o 34, percebemos que a conversa é em torno do que comer, beber e vestir, nada mais do que isto, e Jesus está dizendo que seus discípulos não devem ficar ansiosos por estas coisas. Devem é buscar em primeiro lugar, o seu reino e também a justiça, confiantes que todas estas coisas: comida, bebida e vestuário serão acrescentadas.
3) Observar o texto com muita atenção.
A falta de atenção é um dos principais fatores que levam à má interpretação bíblica no meio do povo de Deus.
Os membros das igrejas, em muitos casos, fazem uma leitura rápida do texto e tiram conclusões mais apressadas ainda, baseados não naquilo que está escrito, mas sim naquilo que eles acham estar escrito.
O texto deve ser observado de todos os ângulos, buscando-se as palavras-chave, aquelas que mostram a base central do assunto, e o significado da passagem como um todo.
Exemplos:
1) Zc. 12,13 e 14. Observe a repetição da expressão “naquele dia”. Isto pode estar mostrando que o assunto básico deste três capítulos, tão difíceis, não é outro senão os acontecimentos daquele dia. O que vem a ser isto já é outro assunto e dificuldade, mas, chegando a essa conclusão, ainda que parcial, estamos no caminho certo para a interpretação correta e final.
2) SI. 101.6. O salmista é quem afirma que procuraria encontrar pessoas fieis para serem seus companheiros. Não é Deus quem faz esta citação.
3) Lm. 3.22-23. Observe que são as misericórdias do Senhor que são novas a cada manhã e não a sua Palavra, como muitos afirmam citando estes versículos.
4) Observar o contexto com muito cuidado.
Observar os versículos que precedem e seguem ao texto que se estuda;
Em qualquer trabalho de interpretação devemos levar em conta o contexto:
1) Imediato. Capítulo ou passagem completa.
2) Próximo. O livro que se encontra.
3) Geral. A Bíblia como um todo.
Exemplos:
1) Filipenses 4.13. Uma gravura de uma pequena formiga carregando uma enorme maçã, citando “Posso todas as coisas naquele que me fortalece”. Essa forma de utilização do texto fora do contexto não passa de um pensamento positivo, sem base bíblica aceitável. O texto bíblico dentro de seu contexto (Fp. 4.10-13) mostra que Paulo podia, ou estava acostumado, a suportar qualquer situação, fosse ela de fartura ou de escassez, o que é muito diferente de poder fazer o que quiser.
2) Lucas 10.4-7. Alguns defendem a ideia de que todos os verdadeiros pregadores da mensagem de Cristo devem partir para os campos missionários sem levar nada para a própria sobrevivência. Observando esta passagem dentro do seu contexto:
– Contexto imediato (Lc. 10.1-12). Esclarece que Jesus não estava dando uma fórmula fechada de como devem comportar-se os missionários de todos os tempos e, sim, passando orientações para apenas um pequeno grupo que deveria ir adiante Dele nos lugares e cidades por onde Ele mesmo passaria em seguida.
– Contexto próximo (Lc. 22.35-38). Esclarece que a mensagem aos setenta discípulos, em Lc. 10.1-12, e também aos doze, em Mt. 10.5-15 e Lc. 9.1-6, não são regras fixas em todos os tempos. Eram instruções para tarefas imediatas e bem definidas.
– Contexto geral (a Bíblia toda). A Bíblia nos esclarece que a igreja que envia deve manter de forma digna seu obreiro (1Co. 9.7-14). Em Jo. 13.21-30 observamos a presença de um tesoureiro no próprio grupo de Jesus.
3) João 9.3: “Nem ele pecou, nem seus pais”. O contexto limita o sentido da frase a que não haviam pecado para que sofresse de cegueira como consequência, segundo erroneamente pensavam os discípulos. Entendemos pelo contexto que se trata da cura do corpo e não da saúde da alma, como pretendem os católicos, que deixando de lado o contexto imaginam encontrar aqui apoio para a extrema unção.
4) Mateus 26.27-29. Compreendemos pelo contexto que a palavra ‘sangue’ deve ser tomada em sentido figurado, desde o momento que Jesus, no dito contexto, volta a chamar ao vinho de fruto da videira, embora o tivesse abençoado. Percebemos que não vem de Jesus o ensino da transformação do vinho em sangue verdadeiro de Cristo.
5) Descobrir o pano de fundo da passagem.
Não basta conhecermos o texto em si. Precisamos conhecer muito daquilo que não está no texto, mas, sim por trás do mesmo, na tentativa de interpretá-lo corretamente.
Quanto mais pormenores o intérprete conseguir do pano de fundo da passagem, maior a possibilidade de um bom entendimento.
Deve-se procurar determinar, no mínimo, quem foi o autor da passagem, em que ocasião a proferiu, em que época viveram os personagens envolvidos, em que época foi escrito, por que foi escrito, qual a localização geográfica, qual a situação econômica, social, religiosa e política da época dos acontecimentos e além de outros itens esclarecedores.
Devemos buscar estas informações nos dicionários bíblicos, comentários disponíveis na atualidade e nas boas introduções, já publicadas.
Exemplo: Amós 4.1 “Ouvi esta palavra, vós, vacas de Basã, que estais no monte de Samaria, que oprimis os pobres, que esmagais os necessitados, que dizeis a vossos maridos: dai cá, e bebamos”. Pelo contexto imediato, percebemos que Amós está dirigindo a palavra às mulheres de Samaria, que faziam parte da classe alta, e que oprimiam o pobre cada vez mais, com a intenção de manter intacta a própria situação social que era extremamente vantajosa para elas. O problema é descobrir o por quê dele as tratar pelo título “Vacas de Basã”. Seria isto uma forma de xingamento? Quando descobrimos ainda, por outros textos, que Amós era boiadeiro antes de ter sido chamado por Deus para ser profeta, e que Basã era uma região conhecida em Israel como excelente para a criação de gado, fica mais fácil de se entender o apelido. Ele estava se referindo às mulheres bem tratadas de Samaria, aquelas que se alimentavam do bom e do melhor e conseguia com isto uma aparência exuberante, na mente de Amós, o boiadeiro, semelhantes às vacas criadas na região de Basã.
6) Identificar os tipos de literatura.
A Bíblia é composta de diferentes gêneros literários.
A variação nos métodos de transmissão não altera a qualidade e a procedência da mensagem bíblica.
Cada gênero literário tem suas particularidades que influenciem na interpretação.
A atenção ao gênero literário impede-nos de transformar uma passagem no que ela não é. Entre os gêneros literários que fazem parte da Bíblia temos: leis, relatoshistóricos, alegorias, provérbios, parábolas, orações, cartas, cânticos, visões, dramatizações, profecias, narrativas, genealogia etc.
Exemplos:
1) Interpretar Ez. 37.1-14 como sendo uma narrativa histórica. Trata-se de uma visão.
2) A dramatização é uma forma de se transmitir uma mensagem bíblica (Jr. 13.1-13; Ez. 4.1-13).
Não interpretar passagens figuradas como literais e vice-versa.
Uma passagem literal não tem mais importância do que uma figurada.
Podemos ensinar uma verdade descrevendo-a literalmente ou de forma figurada, sem com isso diminuir o seu valor.
Alguns interpretam passagens literais como figuradas, porque elas não se enquadram na sua tendência teológica preconcebida.
Todas as vezes que interpretamos passagens figuradas como se fossem literais, e literais como se fossem figuradas, não estamos dizendo aquilo que a Bíblia diz.
Exemplos:
1) Zacarias 4.10 (Figurada). A passagem não descreve Deus como um ser monstruoso, possuidor de sete olhos. O que ele está mostrando é a capacidade divina de observar toda a terra.
2) Malaquias 4.5-6 (Profecia figurada).Verificar Mt. 11.13-14 e Mt. 17.10-13.
3) Mateus 14.13-21 (Literal). Alguns intérpretes afirmam que o real significado da passagem é que Jesus extraiu das multidões um latente espírito de generosidade. Quando viram que o menino compartilhou o seu almoço, seguiram o seu exemplo tirando os alimentos de sob os seus mantos.
4) Mateus 26.26 (Figurada). Jesus partiu pão e não seu próprio corpo, e portanto ele mesmo, santo e inteiro, lhes deu o pão, e não parte de sua carne. Usa, pois, Jesus, a palavra em sentido simbólico, dando-lhes a compreender que o pão representa seu corpo.
5) Mateus 16.19 (Figurada). O reino dos céus não é um lugar terreno onde se penetra mediante chaves materiais. As chaves estão simbolizando autoridade. Veja Jo. 20.23 e Mt. 18.18).
6) SaImo 91.4; SaImo 8.3; 2Crônicas 16.9 (Figuradas). Deus não tem corpo tangível – Jo. 4.24; Lc. 24.39.
7) Mateus 8.22 (Figurada). Aqueles que estão mortos, no sentido espiritual da palavra, podem assistir aos funerais dos que têm falecido no aspecto físico.
Descobrir os diversos significados de uma palavra.
Na linguagem bíblica, como em outra qualquer, existem palavras que variam muito em seu significado, segundo o sentido da frase ou argumento em que ocorrem.
Uma palavra só pode ter um significado correto dentro do contexto que ocorre. Seria um grande erro atribuir-lhe outros sentidos, ainda que verdadeiros em outros locais.
Exemplos:
1) A palavra manga, em português. Isoladamente ela não diz de forma clara a que se refere. Dentro do contexto poderemos descobrir se descreve uma fruta, uma parte do vestuário, um filtro afunilado, ou outra coisa qualquer.
2) Sangue:
. At. 17.24-26 – significa um grupo de pessoas;
. Mt. 27.25 – sentido de culpa e suas consequências, por matar um inocente;
. Hb. 9.6,7 – se refere ao fluído que circula nas veias e artérias dos animais levando nutrição ao corpo;
Ef. 1.7 e Rm. 5.9 – aqui a palavra sangue equivale à morte expiatória de Cristo na cruz.
3) 1Coríntios 7.1 – Este versículo fala da necessidade de abstenção da imoralidade sexual. Seria errôneo concluir que o homem nunca deve tocar mulher, como um aperto de mãos cumprimentando-a.
4) Rins: SI. 16.7; SI. 7.9; Ap. 2.23; Pv. 23.16. Os hebreus costumavam dizer que os desejos vinham dos rins (BLH ‘a minha consciência’).
5) Coração (órgão): 2Sm. 18.4; At. 16.14; 2Co. 3.3; Ef. 6.6: o centro de nossas emoções.
6) Lombos: Lc. 12.35; 1Pe. 1.13 -A expressão “cingidos os lombos” vem do hábito dos judeus de amarrar suas roupas compridas quando queriam trabalhar ou andar depressa, para que não lhes atrapalhassem. Essa ação de amarrar as roupas significa estar preparado, pronto para agir – BLH – ‘…estejam prontos para agir’.
7) Camelo: Mt. 19.24; Mc. 10.25; Lc. 18.25. O Dr. Jorge M. Lamsa explica que a palavra aramaica ‘gamla’ pode significar uma corda grossa, um camelo ou uma viga, e afirma que a palavra camelo é uma tradução errada, primeiro do aramaico para o grego e posteriormente para outras línguas, entre elas o português. Acrescenta que o Senhor quis dizer foi o seguinte: “Mas eu vos digo, que trabalho mais leve é passar uma corda grossa pelo fundo de uma agulha, que entrar um rico no reino dos céus”.
9) Buscar o significado para o receptor original.
Devemos buscar o significado da mensagem no seu contexto antigo ou próprio em que foi revelada, e separar aquilo que é a vontade de Deus para todos os tempos daquilo que dizia respeito somente ao receptor original.
Se não descobrirmos o sentido primário, não teremos como aplicar o ensino de forma correta.
Exemplos:
1) Lucas 18.18-22. Jesus não estava ensinando que para herdar a vida eterna é preciso vender tudo o que temos e dar aos pobres. Ele viu, naquele caso específico, a necessidade do jovem desfazer-se de tudo aquilo que o estava atrapalhando para obter a vida eterna. Embora a ordem para vender tudo tenha sido dada somente àquele jovem, a mensagem do valor do Reino de Deus, o qual ultrapassa qualquer riqueza, e vale mais do que tudo que venhamos a perder ou ter que deixar é para todos, em todos os lugares e em todos os tempos.
2) Atos 5.35-40. Os primeiros ouvintes desta história entenderam que Deus estava ao lado dos discípulos, que Ele tem poder para livrar e que os próprios discípulos eram um grande exemplo de obediência ao Senhor, a qualquer preço. Em nossos dias, porém, alguns têm fechado os olhos para estes ensinos tão claros que os receptores originais receberam, e têm procurado aplicar para situações atuais as palavras nos versículos 38 e 39, com o sentido de que, em matéria de religião, a obra procedente de Deus prospera e que não procede dEle não prospera. Não é difícil perceber, inclusive em nosso país, o quanto estão prosperando falsas seitas, como por exemplo o Espiritismo, entre outras, totalmente contrárias à Bíblia e, sendo assim, não procedentes de Deus.
Tirar ideias do texto e não buscar textos para as
Tenhamos todo o cuidado possível para não fazer da Bíblia um instrumento de apoio para as nossas próprias mensagens, ideias e pensamentos.
Os pregadores são os que mais correm o risco de apresentar suas próprias ideias como se fossem da Bíblia.
Não fale em nome dEle aquilo que Ele não disse. Isso pode render-lhe o desonroso título de falso profeta e as consequências dele decorrentes.
Exemplo: Basta ligarmos o rádio ou a televisão e sintonizarmos em algum dos canais ou das estações chamadas “evangélicas”, para percebermos o quanto isto é praticado em nossos dias.
Lembrar que a Bíblia é um livro de religião e não de ciência.
E um erro tratar a Bíblia como se fosse um livro de ciências, e, mais ainda, um livro de ciências que está sempre atualizado, sem necessidade de nenhum acerto, independentemente da época e do local em que está sendo utilizado.
Os autores humanos da Bíblia não eram cientistas e falaram de maneira compreensível, dentro dos conhecimentos da época.
A Bíblia é livro de religião e não de ciências. Esteja de acordo ou não com as ciências modernas ou futuras, ela continua sendo a mesma em matéria de religião.
Exemplos:
1) Levítico. 11.13-19 (morcego é mamífero ou ave?).
2) Jó 38.29 (a geada vem do céu ou ela se forma no próprio local em que a notamos quando pronta?).
Não valorizar em demasia as divisões oferecidas pelas versões bíblicas.
Os textos originais da Bíblia não tinham pontos, vírgulas, capítulos, assim como vários títulos de passagens bíblicas.
Estas divisões foram colocadas no texto bíblico para facilitar a nossa compreensão e são muito úteis para isto.
Estas divisões podem levar o intérprete a conclusões erradas. Busque sempre a unidade da mensagem e o significado de cada porção da Palavra de Deus.
Exemplos:
1) Jó 3.1-3. O versículo dois esta incompleto, não tendo sentido se for lido separadamente dos três. Os dois juntos deveriam formar apenas um.
2) Gênesis 1,2. O capítulo primeiro se encerra com o versículo trinta e um falando do sexto dia da criação, deixando, arbitrariamente, de fora o sétimo dia que vem logo em seguida. Para manter a unidade da mensagem, a divisão deveria ser feita após o versículo três do segundo capítulo. Veja como os próximos versículos não dão sequência aos anteriores, mas iniciam um novo assunto.
3) SaImo 42,43. Não são dois Salmos como a divisão sugere, mas apenas um.
4) 2Coríntios 7.1 está ligado ao fim do capítulo 6.
5) Isaías 52.13-15 devia fazer parte do capítulo 53.
13) Interpretar textos difíceis à luz de textos fáceis.
Entre a interpretação de uma passagem mais obscura e a de mais clara, sobre o mesmo assunto, preferimos a interpretação da mais clara para explicar a partir desta a mais obscura.
Passagens difíceis, com termos raros, ou aparentemente contraditórios, devem ser interpretados à luz de outros mais abundantes e claros, nos quais se percebem facilmente os ensinos gerais da Bíblia.
A Bíblia é o seu melhor intérprete. Este princípio segue naturalmente e necessariamente a pressuposição de que a Bíblia não se contradiz, e que Deus é o autor deste livro divino.
Exemplos:
1) Lamentações 2.1-6. Interpretando à luz do que está escrito de forma tão clara em Lm. 3.22-26, e do ensino geral da Bíblia, entendemos que para o autor de Lamentações Deus continua sendo bom, mesmo derramando sua ira sobre o povo de Jerusalém.
2) Atos 2.38. Lendo At. 10.43-48 entendemos que o dom do Espirito Santo pode ser recebido por pessoas que ainda não se batizaram nas águas.
3) Lucas 14.26. Se esta declaração fosse tomada em forma literal, constituiria uma completa contradição com outras Escrituras que nos ensinam que devemos amar a nossos familiares Ef. 5.28. Lendo Mt. 10.37 já não só desaparece a contradição, mas compreendemos o verdadeiro sentido do texto.
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Bibliografia:
Princípios de Interpretação da Bíblia – Walter A . Hennchsen . (Ed. Mundo Cristão).
Hermenêutica – E. Lund/ P. C. Nelson. (Ed. Vida).
Como Entender a Biblia – Antonio Renato Gusso (Ed. E. D. Santos).
Bíblia Apologética (ICP Editora).
Fonte: CACP