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Por que precisamos repensar a EBD?

Recentemente, enquanto ministrava em curso de formação para professores, fui interrogado por um participante. Resumidamente, sua dúvida centrava na seguinte indagação: A EBD está em crise?

Tenho certeza que todos os envolvidos com o ensino da Bíblia Sagrada, de forma direta ou indireta, já se perguntaram isso em algum momento. Invariavelmente, estamos acostumados a ver as celebrações dos domingos à noite, as reuniões de campanha, os congressos e as cantatas sempre cheias, com a membresia quase toda reunida. Mas, por outro lado, os chamados “cultos de ensino” rivalizam com as “reuniões de oração” pelo status de “momentos mais vazios” do templo.

Segundo uma pesquisa feita pela Christadelphian Sunday School Union, na década de 20 cerca de 55% dos membros da igreja eram alunos assíduos da escola dominical. Em 2016, a porcentagem havia caído para 4%. O declínio foi tão grande que um movimento de revisão da estrutura da EBD surgiu nos Estados Unidos da América, culminando com o lançamento do livro Let’s Kill Sunday School (before it kills the church) (em tradução livre “Vamos Matar a Escola Dominical (antes que ela mate a igreja)), escrito por Rich Melhein.  Nessa obra, a solução proposta para a crise estava alicerçada em dois pilares: primeiro, a unificação das classes, eliminando a separação de crianças e jovens do resto da igreja e segundo, a criação de um misto de ensino e adoração (chamado de “eduworship”).

Evidentemente, a ideia de que o ensino teológico curricular é “chato” fez com que sugestões como essa pululassem, diluindo o estudo bíblico em uma solução de 90% de músicas e 10% de ministrações da palavra. O resultado é altamente previsível: Maior frequência, menor qualidade. Houve o incremento das chamadas “mega igrejas”, caracterizadas por mensagens cantadas, permeadas por uma série de momentos emotivos e uma qualidade tão pequena de estudo bíblico que me pergunto como tais “árvores sem raízes” se sustentam.

Entretanto, qual a surpresa em se culpar o momento da pregação e do ensino pelo “tédio” da celebração e pelo esvaziamento dos cultos de ensino? Em um ambiente onde a importância das emoções protagoniza os rumos das decisões espirituais, nada mais natural do que conceber a relação biunívoca: menos palavra, mais pessoas!

Deixe-me fazer uma pequena comparação: Recentemente, li em uma revista especializada em economia que no Brasil, assim que um lar é atingido por crise financeira, os primeiros cortes feitos nos orçamentos são os relacionados a planos de saúde e educação! Não é o corte da internet, da TV por assinatura, das refeições fora de casa ou dos passeios no shopping! A educação é encarada como gasto e não investimento. A prioridade é o lazer e não a saúde ou o conhecimento.

Isso se parece muito com a igreja!

O que quero dizer é que sim, em termos globais, estamos passando por uma crise relacionado ao ensino e ao aprendizado teológico. Entretanto, a saída não é cortar o tempo de estudo e dedicação a palavra do Senhor e substituí-lo por louvores ou gincanas. Tal medida, guardada as devidas proporções, é equivalente ao lar que corta os investimentos em saúde e educação, mas mantém as coisas supérfluas. Não estou dizendo que o louvor é supérfluo, mas na Terra, a ministração da palavra é a Grande Comissão da Igreja!

Então, qual(is) seria(m) o(s) motivo(s) concretos que levou(ram) a escola dominical ao panorama descrito até aqui?

Vou elencar algumas razões:

  1. A) Aulas Mecânicas.
  2. B) Exposição sem Planejamento
  3. C) Monólogos longos e difusos
  4. D) Gestão amadora e intuitiva da Escola Dominical

Essas razões foram elencadas por meio de coletas de opinião realizadas em centenas de igrejas e denominações ao longo de nosso ministério de ensino da palavra de Deus. Foram vocalizadas de diversas maneiras, cabendo a mim apenas sintetizá-las. E naturalmente, outra pergunta nos vêm a mente: O que fazer para minimizar tais problemas?

De maneira simplista, a saída mais eficaz para tal cenário é o investimento em capacitação dos professores, tanto em termos de conteúdo especializado quanto em elementos pedagógicos. Associados a isso, incentivarmos o uso de tecnologia e o manejo correto dos materiais de apoio, tornando a aula dinâmica e viva. Logicamente, a “cola” unificadora de tudo isso é a inspiração proveniente do Espírito Santo.

A boa notícia é que começamos a reagir de forma adequada a essa crise! No Brasil, os líderes de escolas dominicais e seminários perceberam que medidas urgentes deviam ser tomadas para capacitar os professores. Vale ressaltar nesse ponto o trabalho pioneiro do já saudoso pastor Antônio Gilberto, que concebeu os chamados CAPEDs (Cursos de Aperfeiçoamento para Professores de Escola Dominical). Na sua esteira surge o Congresso Nacional de Escola Dominical, a reestruturação curricular por faixa etária, a preocupação em preparar um material organizado por pedagogos e psicopedagogos e a democratização dos materiais de apoio, em sua maioria provindos do enorme poder das redes sociais e da grande rede.

Estamos nos avizinhando do momento em que encararemos essa crise como passado? Creio que sim! Há uma conscientização geral de nossos líderes que a maioria de nossos professores são leigos, quase que “rábulas” do ensino, e com isso, quanto mais estratégias e técnicas de ensinos implantarmos em nossas aulas, mais pessoas serão alcançadas pelo ensino da Bíblia Sagrada e a fidelização da membresia em nossas igrejas tende a aumentar.

Respondendo, portanto, a interrogação proposta no título dessa unidade, repensar a maneira como lecionamos é questão de sobrevivência para nossa Escola Bíblica Dominical. O mestre Jesus mostrou a importância de saber se comunicar com o público quando lançou mão de tantas parábolas para esclarecer ensinos difíceis para seus discípulos. Essa habilidade do Mestre dos mestres revela seu caráter didático e efetivo.

“Anunciava-lhes a Palavra por meio de muitas parábolas, como estas, conforme podiam entender e nada lhes falava a não ser em Parábolas. A seus discípulos, porém, explicava tudo em particular.” (Marcos 4,33-34 – Bíblia de Jerusalém)

Que esse também seja nosso grande propósito: Sermos instrumentos de Deus para anunciar sua palavra de forma clara e eficiente

Todo o conteúdo deste artigo é de responsabilidade e emite a opinião do autor

Ev. Jesrrael Fonseca Santos

Formado em Teologia pela Escola de Educação Teológica da Assembleia de Deus (EETAD); graduando em Teologia pela Universidade Batista de Minas Gerais; Superintendente Pedagógico da Escola Bíblica Dominical da Assembleia de Deus em Uberlândia/MG.

Fonte: aduberlandia

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